segunda-feira, 30 de agosto de 2010

La izquierda Cortázar

“Na literatura, não há bons ou maus temas:
somente há um bom ou mal tratamento do tema.”
– Julio Cortázar

Cortázar, um dos mais célebres escritores da América - Latina, conviveu, mesmo que a distância, com os períodos autoritários no mundo, em especial, na Argentina. Diferente do que prevêem alguns críticos – raquíticos e ignorantes – a literatura sofre sim uma grande influência do contexto histórico em que ela é produzida. Em seu livro de contos Todos los fuegos el fuego, Cortázar escreve um dos mais magistrais contos fantásticos, “El otro cielo”. A obra trata de uma personagem, cujo nome fica-nos desconhecido durante todo o conto, que passa a freqüentar a zona de prostituição de Paris, mesmo estando em Buenos Aires.

Uma personagem que conflita entre manter seus afazeres familiares e profissionais: o casamento com Irma, o trabalho na Bolsa, um mãe que se choca com os reais desejos e atitudes do filho e que ao mesmo tempo se vende por presentes. E seus reais desejos: ficar com Josiane, caminhar pelas ruas, becos e cafés da zona de prostituição de Paris. Tudo funcionando com uma espécie de espera, algo que nunca vem. E que ao final, resume-se – e não por isso “ruim” – em uma espera pelo filho, que nascerá em dezembro, pelas próximas eleições e a duvida em quem votar: Perón, Tamborini ou em branco. Ou ainda, quem sabe, ficar em casa, olhando para Irma e para as plantas no pátio, que com certeza a maioria se originou do quase suborno pago à mãe.

Perguntas rondam, agora, nossa mente: se a obra trata de uma personagem que transita entra as obrigações e a desobrigação, qual a relação política e social sobre o tema? Os críticos, que assim pensa, logo mudam de opinião quando percebem que Cortázar é um escrito fantástico e simbólico, que destes, tem apenas o título.

Durante o final da 2ª Guerra Mundial e o fim das grandes ditaduras na América – Latina, surgiu uma forma de critica muito apreciada pelos escritores norte-americanos. Era uma fantasia tão real quanto o próprio Realismo: fantasiava-se a realidade, como uma forma de distração a censura, tornando a obra extremamente politizada. Cortázar é um dos maiores exemplares desta nova forma literária, apesar de auto-exilado em Paris (daí transferir a ambientação de suas obras para Paris) e recebendo muitas criticas, já que “abandonou” a Argentina – na época do governo de Perón.

Nas décadas de 1960 a Argentina vivia um constante medo: que Perón voltasse ao poder. Contudo, o medo, logo deu lugar ao desejo. E em 1973, é reeleito. Cortázar critica o período do primeiro governo de Perón (1946-1955), já que o livro Todos los fuegos el fuego teve sua primeira edição em 1966 (CORTÁZAR, Julio. Todos los fuegos el fuego. Buenos Aires: Sudamericana, 1966). Cortázar, que nasceu em Bruxelas, era filho de pais argentinos, logo, um Argentino fervoroso e defensor de seu país.

A grandiosidade de suas obras faz de Cortázar um dos ícones da literatura fantástica, já que as mesmas têm as características propostas por Vladimir Propp. E ao mesmo tempo, é um dos ícones da literatura politizada, por que por mais simbólica ou fantástica que suas obras possam parecer, elas são na verdade grandes críticas políticas e sociais.

Apesar de todas as críticas que sofreu por ter se auto-exilado e vivido o regime peronista em Paris, Cortázar alcançou o que desejava: criticar a sociedade de direita, conservadora. Mostrar, de certo modo, a sociedade esquerdista (já que todo o discurso ideológico carrega dois ideais: o que critica no caso o regime peronista, de supressão da liberdade. E o que defende, implicitamente, a sociedade esquerdista, socialista).



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